Em 2009 eu atravessei o Canal da Mancha duas vezes, em minha viagem de Londres a Amsterdam, passando pelas cidades de Dover (Inglaterra), Calais e Dunquerque (na França), Bruges (na Bélgica) e Haia e Amsterdam (na Holanda). Ao chegar no movimentado porto de Dover fiquei impressionado com o tamanho dos navios, que os ingleses chamam simplesmente de Ferries, vi entrarem no porão do navio muitos caminhões, ônibus e automóveis (em maior número) e confesso que senti um certo medo com o peso da carga, mas logo me tranquilizei e aproveitei a viagem.
Depois de deixar os veículos na garagem do navio, subimos até a área de passageiros onde podemos escolher ocupar um apartamento, apenas uma sala com televisão ou (devido à viagem durar apenas uma hora e meia) escolhermos um dos cafés ou restaurantes para nos sentarmos com todo conforto observando o mar através de imensas janelas envidraçadas. O passageiro também pode passar o tempo fazendo compras em um mini-shopping ou passeando pelo deck (ou convés, veja foto acima), apreciando o vôo das gaivotas e as brincadeiras dos golfinhos.
Ao nos afastarmos de Dover fiquei observando suas famosas falésias brancas, que às vezes são confundidas com dunas de areia e sobre elas o castelo romano, sobre o qual antigamente se acendia uma fogueira para guiar os navios. Dover se localiza no sul da Inglaterra, no Condado de Kent, possui cerca de quarenta mil habitantes e sua distância de Calais (na França) é de trinta e três quilômetros, a menor distância entre a Inglaterra e a França.
Os motoristas de ônibus e caminhões, especialmente os que estão fazendo viagens mais longas, preferem alugar um apartamento, uma hora e meia de sono já é suficiente para recuperar as forças. Vi grupos de motoristas que alugaram salas com televisão para descansarem com alguma privacidade e tomarem uma cerveja, o que deveria ser proibido. Eu vi estas cenas porque alguns não se preocupavam em fechar as cortinas e eu podia vê-los de minha mesa.
Os navios são muito estáveis e não sentimos balanço algum, nem mesmo movimento, sabemos que o navio está se movendo ao observarmos a paisagem pela janela. Em todos os andares dedicados aos passageiros existem banheiros amplos e limpos e nenhum dos que eu entrei estava lotado. O serviço a bordo é rápido e cordial, eu pedi um café, que chegou em poucos minutos e estava quente e agradável. Chagamos a desejar que a viagem durasse um pouco mais.
Ao nos aproximarmos de Calais vimos suas praias com aquelas casinhas onde as pessoas trocam de roupa e alguns bunkers da segunda guerra mundial, hoje as crianças brincam onde ontem os alemães tentavam desesperadamente defender suas conquistas. Fiquei pensando: que bom que tudo isto acabou e agora os bunkers não passam de restos de uma época horrivel que aterrorizou toda a Europa. Os veículos saíram do navio com calma e ordem e logo estávamos na rodovia E40, conhecida com L'Europeenne (A Européia), seguindo com destino a Dunquerque.
Lupércio Mundim