Em fevereiro de 1966, quando o Boeing 707 da Varig estacionou na pátio do Aeroporto de Dakar (Aeroporto Internacional Léopold Sédar Senghor, localizado no bairro de Yoff, ao norte da cidade), no Senegal, e abriu a porta (naquela época não havia as pontes que ligam os aviões aos aeroportos) entrou um bafo de ar quente que bateu direto em mim, pois eu era o primeiro na fila para descer. Fiquei até tonto, pois ali estava fazendo um calor de, pelo menos, quarenta graus e eu vinha de uma viagem através do inverno europeu. Este foi meu primeiro contato com uma cidade africana, um contato que, posso garantir, foi inesquecível.
Dakar é uma cidade com mais de 2,5 milhões de habitantes, localizada na península de Cabo Verde, que é o ponto mais a oeste do continente africano. A cidade sempre serviu como escala para as viagens à Europa, em uma época em que os aviões não tinham autonomia para voar direto do Brasil para a Europa e mesmo depois, quando os aviões já tinham autonomia para voos diretos para as capitais mais ocidentais como Lisboa e Paris, quando os voos partiam de cidades mais distantes como Londres, Roma, Frankfurt e Atenas.
A cidade de Dakar foi desenvolvida sob domínio francês em torno da Fortaleza da Ilha de Goreia, fundada originalmente por portugueses, desde que o navegador Dinis Dias alí aportou em 1444. Substituiu a cidade de Saint-Louis como a capital da colônia francesa do oeste em 1902. Foi a capital do Mali entre 1959 e 1960, convertendo-se depois na capital do Senegal.
Entre os séculos XVI e XIX, Dakar foi o maior centro para o tráfico de escravos para toda a América. O governo senegalês restaurou e transformou em museu o forte de Estrées na ilha de Gorée, onde os escravos eram reunidos para serem enviados em navios negreiros. Outro fato importante é que Dakar é o ponto de chegada do Rali Dakar, o rali mais famoso e mais difícil do mundo, que ocorre no início de cada ano.
Uma das principais atrações de Dakar é o Lago Retba, que é um lago muito salgado, cujas águas são cor de rosa e que fica ao norte da cidade, deve ser o lago mais estranho do planeta. Sua incrível coloração rosa se deve à alga Dunaliella Salina, que tem um pigmento vermelho e que usa o sol para criar energia e, assim, vai deixando o lago com um aspecto de milk shake de morango.
Outra atração de Dakar é o Monumento da Renascença Africana, situado no topo de uma das duas colinas gémeas chamadas Collines des Mamelles, nos arredores de Dakar. Com vista sobre o oceano Atlântico, no subúrbio de Ouakam, foi desenhado pelo arquiteto senegalês Pierre Goudiaby segundo uma sugestão apresentada pelo presidente Abdoulaye Wade, e construído por uma empresa da Coreia do Norte, ao custo de 27 milhões de dólares. Este magnífico monumento foi inaugurado em 2010 e não existia quando estive em Dakar.
O Museu de Artes da Africa, pertencente ao IFAN - Instituto Fundamental da Africa Negra, é outra atração interessante de Dakar, que reúne 9.000 objetos de arte, dos quais 300 são apresentados aos visitantes de forma permanente. Este museu mostra objetos da vida cotidiana desde a pré-história, contando a história das diversas tribos que deram origem aos povos africanos da atualidade, um museu que pode ser considerado pequeno, mas muito interessante, especialmente para quem se interessa pelas artes africanas, em especial da Africa ocidental.
Lupércio Mundim
